terça-feira, 3 de abril de 2018

A catarse de E. M. Cioran


16 Novembro (1970) Para dez minutos de emissão, quatro dias de emmerdement. Porque a televisão suiça alemã veio a minha casa. Ontem, Domingo, a porteira subiu as escadas e, em tom autoritário, disse-me que não permitiria que filmassem o saguão nem as escadas, e que seria necessária autorização do senhorio, que estava ausente. Que fazer? Pedi aos meus amigos suiços para desistirem de fotografar o prédio. Mas a atitude da Porteira irritou-me. Na altura, contive-me, pois seria ridículo fazer um alarido. Alguns minutos depois, pálido de cólera, para me restabelecer, pus-me a escrever numa folha de papel uma série de insultos dirigidos à criatura. O que acabou por me acalmar quase de imediato. Acrescento que este exercício «literário» foi facilitado pelo operador de imagem, que me pediu para repetir o trabalho, para que ele me pudesse filmar em flagrante delito de actividade.

E. M. Cioran (1911-1995), in Cahiers / 1957-1972.

6 comentários:

  1. Respostas
    1. Eu, às vezes, tenho uma reacção parecida, mas não por escrito..:-)
      Boa tarde!

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  2. Tem alguma ironia esta pequena história.
    O exercício "literário" espontâneo, resultou,
    duplamente.

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    1. Eu creio que terá funcionado como uma espécie de exorcismo. Saudável, aliás.

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