sábado, 8 de julho de 2017

O seu a seu dono


Eu bem sei que os actuais directores de jornais são muito diferentes dos antigos. Que tinham, normalmente, uma cultura sólida, escreviam bem e eram competentes. Hoje, estes sujeitos são muito mais ligeiros, muito voluntaristas e simpáticos, pouco lidos e, decerto, confiantes na estupidez e ignorância dos leitores. No Público, e depois de Vicente Jorge Silva, digno representante da classe de jornalistas, tem sido sempre a descer, impiedosamente...
Atribuir a Lobo Antunes, por título de crónica ou editorial (viva o luxo!), um verso de Sá de Miranda, é um dislate. Literário, mas dislate. Mesmo que seja para alardear cultura, alarvemente, e a propósito de incêndios. Até já Gastão Cruz  tinha epigrafado o verso, em itálico, num soneto, em livro de 1969 (As Aves), referindo o Autor. Porque o romance de A. Lobo Antunes, com esse título, plagiado, saíu apenas em 2001. Mas estes directores de jornais são uns neófitos ainda imberbes, quanto a literatura pátria. Lembram-se de ontem, mal e de outiva, unicamente. Resultado dos programas escolares dos últimos anos? Não sei.
Porque ainda há poucos dias, também, um provecto e reformado amador de letras pátrias proclamava, pomposamente, Adolescente (1942) como sendo o primeiro livro de Eugénio de Andrade. Não é, é Narciso (1940) que, tal como a sua terceira obra (Pureza, 1945), o Poeta viria a renegar, anos mais tarde. Por isso, quanto a jornalistas, sejam eles directores ou aposentados críticos literários, hoje, estamos conversados. E o problema é que estas asneiras deixam rasto e fazem carreira. E vão sendo repetidas pelos ignorantes e distraidos, numa ladainha servil e acarneirada. Deus nos valha!...

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