domingo, 13 de novembro de 2011

Proust e o prazer da leitura


Gostando eu muito de ler, houve por vezes, em mim, o sentimento de culpa por não ter conseguido acabar algumas obras que tinha, e tenho na minha biblioteca. Estão neste caso "A Guerra e Paz" de Tostoi, "A Morte de Vergílio" de Herman Broch, e "À la recherche du temps perdu" de Marcel Proust (1871-1922).
Repeguei, recentemente, num pequeno livro deste escritor francês, a que, em português, deram o título de "O Prazer da Leitura", muito embora, no original se intitule "Journées de Lecture", traduzido para a Teorema, por Magda Bigotte de Figueiredo.
Percebi então porque, de Proust e da sua obra-prima, só tinha sido capaz de ler "Du côté de chez Swann". As descrições são infinitas, barrocas, os detalhes milimétricos e, páginas e páginas decorrem, até que se encontre um momento de acção ou movimento vital. Em Proust quase parece que tudo está parado e imóvel para que o olhar analise cada objecto, cada móvel, cada interior e os descreva, parcimoniosamente, por palavras precisas. Através das sensações que vão despertando.
Mas este texto ("Journées de Lecture") merece ser lido ou, pelo menos, reter dele alguns excertos que nos dão uma exacta descrição pessoal do gosto pela leitura. Aqui vão:
"...E por vezes em casa, na minha cama, muito depois do jantar, as últimas horas do serão abrigavam também a minha leitura, mas isso, apenas nos dias em que tinha chegado aos últimos capítulos de um livro, em que não faltava muito para chegar ao fim. Nessas alturas, arriscando-me a ser castigado se fosse descoberto e à insónia que, terminado o livro, se iria talvez prolongar durante toda a noite, assim que meus pais se deitavam eu voltava a acender a minha vela; (...) Então, era isto? este livro, não passava disto? Aqueles seres a quem havíamos dedicado mais atenção e ternura do que às pessoas da vida, nem sempre ousando confessar a que ponto os amávamos, mesmo quando os nossos pais nos encontravam a ler e pareciam sorrir da nossa emoção, fechando o livro, com uma indiferença simulada ou um aborrecimento fingido; esses seres por quem havíamos tremido e soluçado, não voltaríamos a vê-los nunca mais, não viríamos a saber mais nada deles. ..."

Sem comentários:

Enviar um comentário